1. Dos males, o maior – A manutenção da não-vida, da organização patológica e do statu quo ante só poderia ser promovida por uma repetição irrefletida. A compulsão é o eterno-retorno do comportamento; uma busca insistente por um prazer que não se realiza. É uma necessidade aparente que simula sua satisfação em um alívio insuficiente das tensões. Empenhar-se para satisfazer a vontade compulsiva é o reverso de ser, é não cumprir o papel da vida que é viver, permanecendo sem mudar - apenas permanecendo.
2. Bala perdida – As figuras de linguagem: “válvula de escape” e “bode expiatório” obsolesceram. Tanto aquela quando indica a causa de uma ação agressiva irrefletida, quanto esta quando designa a vítima dessa ação. Ao liberar os gases do cilindro, a válvula de escape permite que o Ciclo de Otto se cumpra possibilitando o movimento do automóvel. Na relação da religião com o bode expiatório sabia-se, ao menos, o que era imputado sobre o bode e que isto não era próprio do animal. Por sua vez, a bala perdida que escapa em meio aos tiroteios de todos os tipos acerta vitimas diferenciando-as apenas com critérios casuais - a bala não tem direção, acerta os mais próximos e desprotegidos. Seja nas guerras, seja nas lutas de classe travestidas com a insígnia do narcotráfico, o disparo tem um alvo invisível ou disperso. Dispara-se a esmo para que o “inimigo” seja atingido, não se sabe de onde este vem - a causa da dor dos homens está velada, mas não suas conseqüências. O movimento é repreendido, para fugir todos se paralisam, ou andam em círculos. A roda da roleta russa gira em falso.
3. De quem era a serpente, afinal? – A serpente sorrateiramente convenceu Eva a experimentar o fruto proibido esta por sua vez convenceu Adão. Qual foi o resultado da degustação do fruto da árvore que estava no centro do jardim do Éden: saber o ‘bem e o mal’, ou criá-lo? Será que a ambivalência do amor é a base da criação desta dualidade? Se a serpente era o demônio não sei, mas que tinha um formato sugestivo, ah isso tinha!
4. Com certeza o perdão é um dos atributos que diferencia o ser humano dos demais animais, mas também é certo que o excesso de indulgência pode transformá-lo na maior das bestas.
